Arquitectura civil cultural modernista. Cinema de planta trapezoidal, marcado por fachada de gaveto, rebocada, balançada e ondulada sobre o espaço urbano. Superfície curva na esquina rasgada por duas grandes caixilharias ritmadas por perfis metálicos. A intercalar os panos envidraçados, um alto-relevo. Uma pala lisa, saliente serve de remate ao último piso recuado. Neste último piso apenas se abrem seis óculos. Espaço interior marcado por superfícies curvas no perfil dos tectos, nas caixilharias onduladas sobre a rua e nas luminárias da sala de cinema e dos foyers. Mantém-se praticamente original na forma e materiais de construção. Quando foi construído, constituiu pela sua expressão arquitectónica e tratamento decorativo do espaço interior uma obra arrojada e inovadora para o que se fazia no Porto. Foi por isso logo à nascença, paradigma da modernidade proporcionando algumas polémicas *3.
Edifício de gaveto de planta trapezoidal, de esquina arredondada de quatro pisos, sendo um em cave e outro recuado. Fachada orientada a O. e S., marcada por embasamento em mármore, sobre o qual balança superfície rebocada ondulada apoiada em pala lisa saliente. A superfície é rasgada por dois enormes envidraçados, fortemente ritmados por perfis verticais metálicos. A intercalar um baixo-relevo de Américo Braga. A rematar o piso recuado uma pala lisa balançada, quase cega, à excepção dos seis óculos voltados a O. correspondentes à cabine de projecção. A partir de escada em caracol que emerge num volume saliente no último piso, acede-se a um terraço triangular sobre a praça da Batalha prolongando-se numa estreita varanda debruçada sobre a R. Santo Ildefonso. Esta varanda permite o acesso ao sistema de enrolamento das telas publicitárias sobre as fachadas, dos filmes em exibição. Sobre a superfície de mármore do piso térreo, uma extensa vitrine saliente e com vidro. No INTERIOR, a planta do edifício articula a sala de espectáculo alongada no sentido mais profundo do lote com um espaço de foyer em L, na área voltada sobre a praça e a rua. A sala com tribuna e balcão de superfícies arredondadas é coberta por tecto estucado curvo com luminárias circulares em cobre com neons sobre a tribuna. Sobre as portas laterais de acesso à plateia, elementos cerâmicos em forma de asas, policromados, em baixo relevo com pássaros e flores. Os foyers de três pisos, adossados às fachadas de gaveto articulam-se com escadarias no vértice e nas extremidades do edifício. Os foyers apresentam-se forrados a contraplacados envernizados, com vitrines integradas de pormenorização requintada, associando vidro, latão e cobre. Os tectos estucados apresentam armaduras circulares, diferentes piso a piso, ora salientes ora embutidas, culminando no último piso misturadas com estrelas recortadas sobre a rua, quando a caixilharia se separa da estrutura de betão do edifício. Os pavimentos em marmorite polida de base preta integram incrustações de latão com desenhos lineares curvilíneos e estrelas dispersas.
Materiais
Paredes exteriores de alvenaria rebocadas pelo interior e exterior; embasamento do edifício revestido a mármore preto e branco; cobertura em estrutura metálica revestida a fibrocimento; tectos falsos em estafe estucados, presos a estrutura de madeira; caixilharias interiores de madeira envernizada; caixilharias exteriores mistas, ferro e madeira pintados; caixilharias exteriores ferro pintado; revestimento dos pavimentos em marmorite com motivos em latão (foyers); revestimento de pavimentos em soalho de madeira (sala principal do cinema); revestimento do pavimento a alcatifa (Sala-bébé); revestimento das paredes a azulejo (WC- homens) e ou mármore rosa (WC- mulheres); revestimento de paredes a contraplacado envernizado ( foyers); revestimento a telas asfálticas (varandas).
Observações
O responsável pela programação do Cinema Batalha, quando este nasceu era Luís Neves Real. O cinema Batalha está também ligado à criação do Cine - clube do Porto. Na caracterização espacial e cenográfica destes espaços, foram integrados elementos como escultura e pintura, restando actualmente a escultura da Mulher Nua. *1 - Antecedeu o Cinema Batalha e era propriedade da Firma Neves & Pascaud. Tratava-se de um edifício em madeira e zinco; *2 - com um festival de cinema francês; *3 - sofreu algumas mutilações por suscitar interpretações políticas mais esquerdistas: foi coberto o fresco de Júlio Pomar do foyer, alusivo à festa de São João no Porto, e foram retirados a foice e o martelo do baixo-relevo da fachada, da autoria de Américo Braga, os puxadores de cobre das portas que antecedem o hall principal, que ostentavam as iniciais "CB", mereceram reparo pelo então presidente da Câmara, Dr. Luís Pina, que interpretou como sugestivas de "Comité Bolchevista"; sobre estes aspectos Artur Andrade proferiu algumas considerações de contestação e revolta: "Estes pides de inteligência, homens que se consideravam intelectuais, que se diriam ao serviço da Arte e da Ciência, eram somente os servidores de uma política contra a liberdade criadora... o que se passou com o Cinema Batalha foi uma autêntica violência, típica do regime fascista"; *4 - outros dizem que foi executada uma forra em parede de tijolo.