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Basílica e Convento da Estrela

Basílica e Convento da Estrela

O ponto de interesse Basílica e Convento da Estrela encontra-se localizado na freguesia de Estrela no municipio de Lisboa e no distrito de Lisboa.

Arquitectura religiosa, barroca e neoclássica. Mosteiro feminino da Ordem das Carmelitas Descalças, de planta rectangular, com igreja adossada em cruz latina, composta por nave única com coro-alto, precedida de galilé, transepto e capela-mor pouco pronunciada, ladeada por duas sacristias, que comunicam através das antecâmaras. Fachada principal axial, solução aceite entre os conventos femininos carmelitas, harmónica, com corpo central ligeiramente avançado, rematado em frontão triangular e torres laterais com remate em coruchéu bolboso. Alçados laterais circunscritos por cunhais apilastrados encimados por fogaréus e remate em cornija e platibanda balaustrada. Galilé profunda, com pequenos vestíbulos laterais, onde se rasgam nichos com estatuária. Interior revestido a calcário de várias tonalidades, formando apainelados e elementos geométricos que dinamizam a frieza do muro, com coberturas em abóbada de lunetas. A nave possui capelas retabulares laterais, à face, esquema difundido pelas igrejas do período pombalino, divididas por um jogo de pilastras e colunas, e capela-mor pouco profunda, iluminada directamente, cujo esquema retabular é inspirado no da Basílica de Mafra ( v. PT031109090001 ) e no da Sé de Évora ( v. PT040705120016 ) . Sobre o cruzeiro, existência de cúpula, de estrutura semelhante à da Igreja da Memória ( v. PT031106010041 ). As fachadas do convento são simétricas, a partir de um eixo central, marcado por ressalto, na fachada N. e por frontão decorado e proeminente, na O.. Os claustros são quadrangulares, de dois andares, tendo, em cada ala, cinco arcadas no piso inferior, com acesso pela zona central, e outros tantos vãos no superior, protegidos por guardas de cantaria. No centro, uma fonte profusamente decorada. Em torno destes, organizam-se as várias salas destinadas à vida comunitária, nomeadamente o refeitório e a Sala do Conselho. Internamente, os corredores acedem às celas das religiosas, relativamente amplas e com iluminação directa. As várias salas são decoradas por silhares de azulejo rococó e neoclássico, de composição figurativa e ornamental, tendo algumas salas com estuque relevado, branco sobre fundos de tonalidades suaves, com decoração fitomórfica neocláasica e de marmoreados, e pintura mural, onde dominam as representações de cenas da vida de Cristo, de Santa Teresa e alegorias, nomeadamente Virtudes. A basílica tornou-se o panteão da sua fundadora, única monarca da dinastia de Bragança que não foi sepultada em São Vicente de Fora, tendo, no convento, uma ala nobre, destinada aos seus aposentos, a qual obrigou à desobediência de determinados aspectos da regra carmelita, em função do efeito final e da magnificência do conjunto, surgindo uma mansão grandiosa, não proporcionada ao poder económico das ocupantes, cujas celas tinham janelas para o exterior, ao contrário do recomendado pela referida regra. O conjunto constitui uma das mais notáveis manifestações do barroco tardio português, evidenciando a herança planimétrica e volumétrica do barroco joanino, fundamentalmente no esquema da capela-mor, galilé e coro-alto, mas fazendo uso de uma gramática ornamental inovadora, contida, com contributos neoclássicos, nomeadamente na decoração da talha e dos estuques, com uma linguagem fitomórfica sóbria. Também a fachada principal manifesta este ponto de viragem, com as torres e a profusão escultórica barroquizantes ( as alegóricas influenciadas pelas gravuras de Cesar Ripa ), mas com o corpo central ligeiramente avançado, em que as colunas e o frontão triangular assumem papel fundamental, denotando soluções neoclássicas. Existência de tribunas sobre as dependências adossadas à capela-mor que abrem directamente para esta e para o transepto, com uma amplitude e um esquema pouco comum nos edifícios religiosos portugueses, decoradas com estuques e pinturas essencialmente alegóricas. O transepto assume-se de grandes dimensões, simétrico, em que a estrutura sobre a porta de acesso à Capela do Senhor dos Passos imita o remate do retábulo fronteiro da Capela do Santíssimo, com frontão comportando estatuária e existência de telas e nichos protegidos por vidraças contendo estatuária. Digno de nota, o presépio em terracota, pelas suas dimensões e qualidade escultórica, com algumas figuras sem ostentarem pintura, revelando o barro vermelho, com carácter grotesco, surgindo vários anões músicos; certas peças são semelhantes às figuras de Vieira Lusitano. Algumas salas conventuais mantêm a sua decoração original, de pintura, estuques e azulejo, onde se destaca o Locutório, com cenas da vida de Santa Teresam, cujos painéis foram realizados a partir do album "Vita S. Virginis Teresiae a Iesu " impresso em Antuérpia em 1613 e ilustrado pelos gravadores Adriaen Collaert e Corneille Galle *6.

Planta rectangular, composta por convento e basílica adossados, com coberturas diferenciadas a duas, três e quatro águas. BASÍLICA de planta longitudinal em cruz latina com os braços em semicírculo, composta por galilé rectangular, nave única, com capelas retabulares laterais, transepto saliente, capela-mor pouco profunda, sacristia e dependência adossadas. Na volumetria do conjunto, destaca-se o zimbório que se levanta sobre tambor vazado por oito janelas, ladeadas por duplas pilastras, que sustentam o peso da calote da cúpula, em cujos panos se rasgam dois olhos de boi sobrepostos, o inferior ladeado por plintos que sustentam pequenos pináculos. O lanternim ostenta oito janelas ladeadas por colunas, coberto por coruchéu bolboso, rasgado por pequeno óculo e encimado por esfera e cruz. O conjunto é construído em lioz branco, com os alçados circunscritos por cunhais apilastrados, encimados por fogaréus, e remates em cornija e platibanda balaustrada com algumas gárgulas, sendo os laterais rebocados e pintados. A fachada principal, a N., é harmónica, com duas torres sineiras *2 a flanquear o corpo que se desenvolve em dois registos e três panos, o central ligeiramente avançado, com três arcos de volta perfeita, ladeados por quatro colunas destacadas, de fuste liso e capitéis coríntios, sobre as quais são visíveis estátuas. No segundo registo, dividido por pilastras, surgem duas janelas com cornija, a ladear um grupo escultórico representando a "Adoração do Sagrado Coração de Jesus". Remate em frontão triangular, decorado por um delta luminoso relevado, envolto por enrolamentos e motivos fitomórficos. Os corpos extremos, que servem de base ao lançamento das torres sineiras, articulam-se com o central por meio de panos de muro no qual se abrem dois nichos sobrepostos albergando estatuária. As torres, de secção quadrada, têm acesso por duas escadas em caracol e evoluem em quatro registos, observando-se, no primeiro, porta de acesso ao espaço conventual, sucedendo-se janela sobrepujada por cornija, relógio e, superiormente, as sineiras, ladeadas por colunas, sendo a cobertura em coruchéu bolboso, rasgado por pequeno óculo, com fogaréus nos ângulos. As fachadas laterais têm os panos divididos por duplas pilastras e são rasgadas, no nível superior, por três janelas de moldura simples, que iluminam o interior da basílica. O volume correspondente ao transepto, com os ângulos côncavos, tem duas janelas. No alçado E., o corpo da sacristia possui janelas com moldura recortada e frontão e uma porta de verga recta. A galilé, com acesso por portões de ferro, protegidos por guarda-ventos, é ampla, coberta por abóbada de berço com penetrações e pavimento de motivos geométricos em calcário policromo, tendo três vãos de acesso à igreja com moldura recortada e cornija, os laterais mais baixos. Neste espaço, surgem quatro nichos, dois entaipados e dois contendo as esculturas da Virgem e de São José. O INTERIOR, com as coberturas à mesma altura, possui nave de três tramos, marcados pelas duplas pilastras sobre plinto comum, que sustentam o entablamento e abóbada de lunetas com os arcos decorados com rosetas, tendo o pavimento de calcário rosa, preto e branco, formando elementos florais estilizados. A entrada é efectuada por portas duplas de madeira, protegidas por guarda-vento. O coro-alto, com acesso por escada interior em caracol, situa-se sobre a galilé e abre para a nave por arco de volta perfeita, ladeado por dois pequenos rectângulos assentes em pilastras. Neste, encontra-se um Grande Órgão. Na nave, existem seis capelas laterais à face, de arcos de volta perfeita de cantaria, com degrau de acesso projectado em semicírculo e teia de pedra balaustrada com cancelas de madeira. Em cada uma das capelas, retábulo de cantaria enquadrando telas alusivas à actual ou à primitiva invocação, que são, no lado do Evangelho, de Santa Teresa, Nossa Senhora do Monte do Carmo e Mater Dolorosa; no oposto, Santo António, Nossa Senhora da Conceição e Sagrado Coração de Maria. O transepto apresenta cobertura semelhante à da nave e, sobre o cruzeiro, uma cúpula com tambor, assente em pendentes, onde se inscrevem pilastras coríntias duplas e, na calote, panos com pequeno óculo decorado e painéis de várias tonalidades, rematada por lanternim com pilastras e uma pequena cúpula. No braço do lado do Evangelho, ergue-se a Capela do Santíssimo Sacramento, ligeiramente elevada e protegida por teia, onde se integra um retábulo de pedra, com uma tela representando a Última Ceia. No braço oposto, um vão em arco abatido de acesso à Capela do Senhor dos Passos e, integrado no vão da porta que acede à Sala do Presépio, o túmulo de D. Maria I, integralmente em mármore branco e preto, constituído por um plinto, tendo na face frontal uma inscrição identificativa, onde assenta uma urna apoiada em leões, superiormente rematada por um grupo escultórico ( Fama e "putto" ), ladeando um medalhão com a efígie da soberana. Junto ao arco triunfal, um órgão positivo. A capela-mor, protegida por teia balaustrada, é pouco profunda, com cobertura em abóbada de lunetas e retábulo de cantaria composto por duas colunas de fuste liso e capitéis coríntios, enquadrando uma tela que representa "A Consagração da Devoção do Coração de Jesus", rematado por duplo frontão, um deles interrompido, onde se apoiam dois anjos que adoram o Crucificado rodeado de glória e resplendor. O conjunto é ladeado por quatro telas figurando os doutores da Igreja: Santo Agostinho e São Gregório, no lado do Evangelho; Santo Ambrósio e São Jerónimo no oposto. Neste espaço, existe uma ara de altar, um pequeno cadeiral e duas portas de acesso à sacristia e à Sala do Presépio respectivamente, sobre as quais despontam duas tribunas ( da Rainha e a do Órgão ), que abrem simultaneamente para o transepto, tendo todas as dependências uma antecâmara. A sacristia é rectangular, com paredes marmoreadas, rasgada, a do lado E., por duas janelas, possuindo o túmulo de Frei Inácio de São Caetano *3, constituído por uma arca em mármore negro, apoiada em duas pilastras, e encimada por uma peanha suportando uma mitra. Entre os apoios do monumento, uma escultura em mármore branco figurando um pequeno anjo. O presépio encontra-se encerrado em armário com portas de vidro, permitindo a visão central e lateral; apresenta duas cenas centrais, subdivididas por um eixo, a "Adoração dos Pastores", cena que ofusca a Sagrada Família, no lado direito e "Cortejo dos Reis Magos", que surge no lado esquerdo; surgem, ainda, o "Anúncio aos Pastores", Fuga para o Egipto", "Massacre dos Inocentes", "Matança do Porco", cego da sanfona, anões músicos e glória de anjos. As figuras enquadram-se em grutas e elementos arquitectónicos. CONVENTO de planta rectangular com dois ressaltos, composta por quatro alas paralelepipédicas, organizadas em torno de dois claustros quadrangulares, com dois pisos. O alçado principal, a N., apresenta-se organizado em três corpos, sendo o central avançado e integralmente revestido de cantaria, apresentando, no piso térreo, o único portal de acesso, de verga curva e sobrepujado de ática. Nos corpos laterais, este nível corresponde a um embasamento de placagem de cantaria, apenas interrompido pela abertura de duas portas de serviço. No conjunto da fachada, distinguem-se dois pisos, sendo o primeiro ritmado pela abertura de dezasseis janelas rectangulares coroadas por ática e o segundo por doze janelas quadradas, duas rectangulares, no corpo central, e duas falsas janelas de sacada com verga curva e ática. No extremo desta fachada, destacando-se em relação ao plano da fachada O., o edifício vê-se acrescido de um terceiro piso, no qual se abrem duas janelas quadradas. A fachada O. repete a composição do alçado principal, sendo o pano central destacado apenas pela presença de duas pilastras e pelo coroamento em frontão triangular que invade as coberturas, surgindo, no extremo direito, um corpo proeminente, acrescido de dois andares, com fenestrações simples e o piso superior percorrido por varanda. No INTERIOR, abrem-se dois claustros de planta quadrada com fonte central, divididos pelas Capelas do Senhor dos Passos e Nossa Senhora do Carmo *4, cujas alas rectangulares evoluem em dois pisos, desenvolvidas a N., S. e O., sendo, cada uma delas, constituída por cinco módulos separados por pilastras de cantaria, onde se abrem, no piso térreo, arco de volta inteira envidraçado e, ao nível do primeiro andar, janelas rectangulares. Estas alas dão acesso a várias salas, actualmente incaracterísticas, mantendo, algumas delas, silhares de azulejo decorativo, sendo a articulação entre os dois andares efectuada por escadas a N., S. e O., destacando-se a monumentalidade da primeira, em dois lanços e com patamar intermédio. Na ala O., as 16 celas das religiosas, cada uma delas de planta quadrada e com janela, surgindo, ainda, vestígios de vários oratórios decorados com frontão triangular e pintura mural. No fundo desta ala, o primitivo noviciado, com oito celas e uma capela dedicada a Jesus, Maria e José, divididas por um tabique, do espaço das conversas. Entre o espaço da basílica e o claustro N. surge a residência do prior e várias salas de apoio à Paróquia. Distinguem-se, pela primitiva funcionalidade bem como pela decoração que mantêm: a Portaria, o antigo Locutório que comunica com as dependências do Convento, a O. e da Basílica, a E.; o antigo refeitório, a O. da entrada principal; a Sala Nobre ou Sala da Rainha, na ala N. do segundo piso; Sala do Presépio, na ala O. do claustro S.; Sala da Roda, anexa à última; Sala do torreão N. e, entre os claustros e no prolongamento do transepto da Igreja, as capelas do Senhor dos Passos e de Nossa Senhora do Carmo.

Materiais

Estrutura em alvenaria mista rebocada e pintada e de cantaria de calcário lioz, azul de Sintra, encarnadão de Negrais, amarela de Lousa - Salemas, preto de Cascais), mármore; cantaria de Vila Verde (utilizada nos restauros do séc. 20); guardas, guarda-vento, portas de madeira de castanho; retábulos de madeira pintada e dourada; caixas de órgão de madeira; madeira de palmeiro do Brasil; grades em ferro forjado; telas pintadas; tectos com estuque artístico pintado e escaiola; presépio em terracota pintada; azulejo.

Observações

*1 - DOF: ... e os túmulos de D. Maria I e do seu confessor. *2 - não existiam no primeiro plano de Mateus Vicente, que, num segundo projecto, optou pela colocação de torres sineiras, que exigiram o reforço da parede da frontaria; *3 - confessor da rainha e bispo de Tessalónica; *4 - constituíam os primitivos coro-baixo e antecoro. *5 - este arquitecto foi o autor de algumas alterações ao projecto inicial de Mateus Vicente, após a morte deste, nomeadamente o aumento da capela-mor e do transepto, com forma arredondada no exterior, alargamento da nave, redução do número de capela de 8 para 6, frontão da fachada principal mudou de contracurvado para triangular, alteamento da cúpula e colocação de esculturas sobre as colunas da fachada. *6 - existe uma edição deste album, de 1630, na Biblioteca Nacional de Lisboa.