Vais quebrar-me consecutivamente na esperança de guardar um caco, de dedilhar um fio, de revelares a penumbra do teu reflexo numa fenda minha. O meu corpo não me conhece, nunca soube o que quis ser. Nunca se quis a si. Para onde olho vejo montanhas rosa de mágoa que moem esse caminho do momento. Inundam-nos as almas de um pranto branco consecutivo. As flores pálidas dos umbigos murcham no bater do som do tempo, espelhadas nas janelas deste arco sem fim...
Voltámos juntos de superfícies diferentes e desvendaste o meu corpo como uma arqueologia dos contornos. Agora sou o teu lugar.
Os nossos corpos são não lugares, uma paisagem, uma miragem pela qual passam consecutivamente sem ver que não somos daqui, que este espaço não nos engole, que a pertença é realmente escassa.
E se eu te habitar? Posso dizer-te que sou teu e que tu és meu e que eu pertenço dentro de ti?
O aqui só é meu enquanto eu cá estiver e eu, eu pertenço ao mundo e a ninguém.
Na bola, do espaço, do meu quadrado que não sei se é meu: quantas vezes cabemos um pertencer que nos pertence às gargantas dos nossos olhos?
Ficha Técnica:
Criação e Direcção | Daniel Matos
Interpretação e Co-Criação | Adriana Xavier, Lia Vohlgemuth, Mélanie Ferreira, Rodrigo Lemos e Rodrigo Teixeira
Apoios | Cia Olga Roriz, EIRA, Cia Clara Andermatt, Companhia Nacional de Bailado - Estúdios Víctor Córdon, IPDJ, Câmara Municipal de Lagos, LAC, Direcção Regional da Cultura do Algarve, Junta de Freguesia de São Gonçalo de Lagos
Música | Daniel Matos e Nelson Nunes
Concepção Plástica, Cenografia e Adereços | Daniel Matos
Fotografia e Vídeo | António Coelho, Joaquim Leal e Teresa Lopes da Silva
Figurinos | Bruna Porto
Produção| Teatro Experimental de Lagos
Direcção de Produção | Joana Flor Duarte
Assistência à Produção| Davide Vicente
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